domingo, 20 de fevereiro de 2011

A metade do nada



Nas últimas semanas, mulheres e homens italianos tem se manifestado publicamente sobre a situação feminina na Itália. O estopim desse movimento foi o notório comportamento machista de Sílvio Berlusconi, que ainda é o primeiro-ministro do país, e que mais uma vez ocupa a mídia mundial devido a escândalos sexuais.
"A metade do nada" foi como a ex-esposa de Berlusconi, Veronica Lario, definiu a condição da mulher na Itália país no qual a violência contra a mulher é elevada (quase 45% da população feminina já sofreu violência sexual, física ou psicológica e cerca de 70% desse número foi vítima do próprio parceiro), a diferença salarial entre homens e mulheres é grande e o número de mulheres em cargos de liderança política ou empresarial é pequeno.
Cada povo tem seu tipo de beleza e o da mulher italiana ficou conhecido como o de formas nada modestas e de traços faciais marcados por nariz, boca e olhos nada discretos. O modo brusco e grosseiro dos italianos aliados à percepção sexista de homens como Berlusconi que entendem que essa embalagem carece de conteúdo inteligente faz com que conselhos do tipo "procure um homem rico para se casar" sejam dados às jovens italianas que ambicionam a independência econômica.
Parte de minha origem é italiana e eu me envergonho e me enojo com a situação da mulher no país de meus antepassados. Minha nona era inteligente, fisicamente forte e bonita e graças a esses atributos ela conseguiu parir 9 filhos, criá-los e enterrar alguns em terra diferente da sua, trabalhar na lavoura com um marido que morreu aos 35 anos, casar-se pela segunda vez e ter mais 2 filhos.
"A Itália não é um bordel!" é uma das frases escritas nos cartazes dos que tem ido às ruas. Tenho simpatia, me solidarizo e apoio esse movimento mas seria ingenuidade acreditar que mudanças de comportamento em relação a um preconceito arraigado há tanto tempo irão acontecer de um dia para o outro. Mudanças podem e devem acontecer, mas elas serão lentas. A manifestação popular junto com o apoio de entidades não governamentais internas e internacionais serão fundamentais para manter o assunto em foco e fomentar esse processo.
A situação da mulher em território brasileiro não é lá muito diferente da mulher italiana, mas o prognóstico do Brasil é muito mais promissor. Diga-se de passagem que existe uma mulher no cargo político mais importante do país e confesso que fui uma das pessoas responsáveis por isso e que até agora não me arrependo da escolha que fiz.

referência da imagem: Reuters (publicada pelo "Jornal de Londrina" em 13/02/2011)

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