Desde que surgiram as especializações dos ofícios, fez-se necesário ensinar a teoria e a técnica de cada atividade. Cada atividade tem seu valor próprio, seja a que se restringe ao mundo empírico das ideias ou a que gera produtos e serviços para tornar a vida viável, pois não se vive só de ideias. A junção harmoniosa das duas vertentes, teoricamente, geraria sinergia de inteligências e o resultado seria a prática inteligente. Mas geralmente os intelectuais demais desprezam os práticos, taxando-os de consumistas, capitalistas, entre outros termos menos agradáveis, e os práticos não conseguem conversar com os intelectuais pois a sapiência teórica cria uma capa que limita ou mesmo isola a comunicação entre essas espécies.
A propagação do saber específico através da tradição oral ou dos cursos tecnológicos ou de graduação deveria gerar profissionais teóricos ou práticos com o mínimo de bagagem para exercer seus ofícios. Mas, quando entidades de classe se dispõem a avaliar a qualidade do aprendizado desses profissionais, acontecem aberrações como o último exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Cerca de 15% das universidades tiveram 0% de aprovação de seus alunos e nas poucas que tiveram os melhores índices, o melhor desempenho foi de cerca de 70% aprovados. Ou seja, nos melhores cursos, 30% dos que se graduaram não atenderam ao critério do que a entidade de classe entende como sendo o necessário para exercer a profissão. Esses 30% reprovados fazem parte do grupo que conclui a graduação e que representa os sobreviventes entre os muitos que desistiram ou simplesmente ainda não concluiram seus cursos.
Cenário ruim.
Peguntas que me faço diante disso:
1) como avaliar a formação de um profissional?
2) o que se deve avaliar?
3) como selecionar a entrada dos candidatos para uma graduação?
4) o que se deve ensinar para que o indíviduo seja considerado "formado" para uma determinada profisssão?
5) seleção na entrada, seleção na saída ... e o meio do processo?
As respostas para essas perguntas incluem temas como: vocação, aptidão, formação escolar básica, vestibular, curriculum mínimo da graduação, contexto social e econômico do indíviduo, qualidade do ensino superior, formação dos professores dos cursos de graduação, entre outros.
O assunto é delicado, essencial e amplo. Pensar em respostas é necessário, mas agir rápido é mais importante ainda.
A geração que se "forma" nesse momento se mostra inapta para responder às necessidades básicas do ofício para o qual se prepararam por pelo menos 4 anos em um curso de graduação. O resultado do exame da OAB é o indicador de um processo educacional muito ruim.
O que eu posso fazer para mudar isso? Não quero me restringir à teoria pois já entendi que não é assim que o cenário deve ser. Então, que sementes eu devo plantar para que os meus alunos sejam melhor "formados"? Que os próximos semestres me ajudem a ter ferramentas para responder a essas questões e me tornarem apta à ação consciente.
Só para constar, o índice de reprovação de minhas turmas variou entre 25-75%, ou seja, em média dos meus quase 300 alunos, 150 foram reprovados. Grande parte disso se deve à falta dos pré-requisitos mínimos para o entendimento do conteúdo específico de uma disciplina que é ministrada no penúltimo semestre do curso. Teoricamente, os que "passaram" entenderam as diferenças básicas entre os diferentes tipos de medicamento e como esses produtos são produzidos. Teoricamente ...
Estamos formando ou deformando o futuro?!
ResponderExcluirEis a questão...
liberdade, beleza e Graça...