
Teu porte imponente, alto e magro, te fizeram ser notado sempre.Vendo as fotos antigas, é impossível não perceber a tua similaridade com o bisa: José Molina Rubio, só faltou o bigode.
Hilário é o teu nome, mas você não foi tão hilariante quanto o nome anunciava, pelo contrário, foi um ser pensante, serio e inquieto de ideias. Teu jeito calmo de falar, de articular, de conversar, tuas ideias lúcidas, tua lógica, tua melancolia ... te fizeram um dos parentes mais queridos. Impossível ir para praia sem passar na tua casa, ficar horas na varanda, jogando conversa fora, falando sobre o nada, sobre o tudo, sobre a vida dos vivos e dos mortos, dos conhecidos e dos desconhecidos, admirar o jardim que você plantou e cuidou sempre com tanto carinho, brincar com os cachorros que sempre te foram companheiros e que pareciam refletir tua personalidade. Flores multicoloridas, alho poró, berinjela, abobrinha, cebolinha ... tudo tão lindo e tão bem cuidado! No início desse ano, colhemos juntos um pouco de alhó poró e mal sabia eu que aquela seria nossa despedida das ciências agrícolas de quintal.
Teu gosto pela leitura e pelas palavras cruzadas me contagiaram. O "Ramalhete de trovas", aquele livro de versos que você me deu quando eu ainda nem sabia ler direito, como eu gostei daquilo! Repeti a leitura tantas e tantas vezes que perdi a conta, só sei que o tempo passou, as páginas estão amarelas e têm cheiro de passado.
Hoje parece ser um dos teus últimos dias depois de quase 80 anos por aqui. Há pouco te visitamos, antes dessa cirurgia cardíaca que tinha a intenção de te recauchutar. Éramos 12 pessoas num quarto onde só 2 visitas seriam oficialmente permitidas. Rimos, cantamos, contamos histórias mas você estava preocupado. Sabia, sentia que aquela poderia ser nossa despedida e queria dizer isso. Nós tambem sabíamos e sentíamos mas preferimos gastar esse tempo rindo e te fazendo rir.
A situação é delicada, medicamentos e equipamentos te mantêm vivo. Tua magreza aumentou, tuas rugas e manchas senis se acentuaram, teus cabelos brancos tão abundantes, tão lindos, são mais uma marca do tempo que passou e que agora cobra o preço. Teu sofrimento físico nos faz querer que você pare de lutar para que a tua dor pare e que você descanse.
Hilário é o teu nome, mas você não foi tão hilariante quanto o nome anunciava, pelo contrário, foi um ser pensante, serio e inquieto de ideias. Teu jeito calmo de falar, de articular, de conversar, tuas ideias lúcidas, tua lógica, tua melancolia ... te fizeram um dos parentes mais queridos. Impossível ir para praia sem passar na tua casa, ficar horas na varanda, jogando conversa fora, falando sobre o nada, sobre o tudo, sobre a vida dos vivos e dos mortos, dos conhecidos e dos desconhecidos, admirar o jardim que você plantou e cuidou sempre com tanto carinho, brincar com os cachorros que sempre te foram companheiros e que pareciam refletir tua personalidade. Flores multicoloridas, alho poró, berinjela, abobrinha, cebolinha ... tudo tão lindo e tão bem cuidado! No início desse ano, colhemos juntos um pouco de alhó poró e mal sabia eu que aquela seria nossa despedida das ciências agrícolas de quintal.
Teu gosto pela leitura e pelas palavras cruzadas me contagiaram. O "Ramalhete de trovas", aquele livro de versos que você me deu quando eu ainda nem sabia ler direito, como eu gostei daquilo! Repeti a leitura tantas e tantas vezes que perdi a conta, só sei que o tempo passou, as páginas estão amarelas e têm cheiro de passado.
Hoje parece ser um dos teus últimos dias depois de quase 80 anos por aqui. Há pouco te visitamos, antes dessa cirurgia cardíaca que tinha a intenção de te recauchutar. Éramos 12 pessoas num quarto onde só 2 visitas seriam oficialmente permitidas. Rimos, cantamos, contamos histórias mas você estava preocupado. Sabia, sentia que aquela poderia ser nossa despedida e queria dizer isso. Nós tambem sabíamos e sentíamos mas preferimos gastar esse tempo rindo e te fazendo rir.
A situação é delicada, medicamentos e equipamentos te mantêm vivo. Tua magreza aumentou, tuas rugas e manchas senis se acentuaram, teus cabelos brancos tão abundantes, tão lindos, são mais uma marca do tempo que passou e que agora cobra o preço. Teu sofrimento físico nos faz querer que você pare de lutar para que a tua dor pare e que você descanse.
As bebedeiras, as cantorias, as pescarias que você compartilhou com tanta gente... A memória, a história, a saudade, aquele sino que tange na catedral do peito, como dizia uma das trovas do livro que você me deu, serão nossas companheiras mas jamais te substituirão.
"Adiós muchachos compañeros de mi vida ..." acho que você cantaria isso e falaria alguma coisa com sua voz de tenor, se esses tubos não estivessem te fechando a garganta... Depois, você faria um discurso, levantaria da tua cadeira, abraçaria cada um, caminharia lentamente até o portão marrom de madeira que tem por cima um arco de flores lilases e em companhia da Vitória, a cachorra pretinha que tanto te estima, abriria o trinco, iria para a calçada, fecharia o portão, faria um breve aceno e sairia para caminhar. Se você pudesse, acredito que talvez fizesse assim.
"Adiós muchachos compañeros de mi vida ..." acho que você cantaria isso e falaria alguma coisa com sua voz de tenor, se esses tubos não estivessem te fechando a garganta... Depois, você faria um discurso, levantaria da tua cadeira, abraçaria cada um, caminharia lentamente até o portão marrom de madeira que tem por cima um arco de flores lilases e em companhia da Vitória, a cachorra pretinha que tanto te estima, abriria o trinco, iria para a calçada, fecharia o portão, faria um breve aceno e sairia para caminhar. Se você pudesse, acredito que talvez fizesse assim.
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